sábado, 12 de fevereiro de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Como entrei no mundo da contação de histórias

Sempre me interessei por livros, aos 13 anos foi uma febre, adorava ler coleções. Mas a contação de histórias só ficou nos relatos familiares. Somente quando comecei a trabalhar em escolas, fui aprendendo e me interessei mais. Quando dei aula para Educação Infantil me surpreendi contando histórias. Era uma coisa mágica que encantava qualquer criança e até os adultos. Nunca tinha pensado em só fazer aquilo, por mais que eu gostasse dos livros, eu sentia que o melhor naquele momento era dar aulas. Gostava de cantar músicas infantis junto com as crianças e também de brincar. Era uma diversão, nunca pensei que trabalhar com as crianças fosse tão bom, me apaixonava cada vez mais. Aí, um dia tudo mudou: fui chamada para trabalhar numa biblioteca de um colégio como auxiliar, tendo como função principal: contadora de histórias. Nossa, foi um reviravolta em minha vida, ou era pegar ou largar, e eu decidi arriscar. Não sabia nada de técnicas, muito menos de lidar com um trabalho, como se fosse um espetáculo. Tudo era esquisito porque era uma grande novidade. Sem experiência, fui procurar alguns cursos de contação de histórias, dobraduras, música e até de confecção de fantoches. Nada tão específico, só por curiosidade, para saber o que eu poderia fazer neste novo emprego. Eu não ficaria o tempo todo contando histórias, e sim, participando de todas as atividades de pesquisa na biblioteca também. Logo quando entrei neste serviço, tive a oportunidade de ouvir várias histórias contadas pela professora que eu ficaria no seu lugar. Ela me passou em três dias as suas experiências, as funções que eu iria exercer naquele serviço. Tudo muito resumidamente e para mim um mistério que parecia não ter fim. Ao mesmo tempo em que eu pensava que seria fácil demais, tinha um terrível medo de não ser nada do que eu estava pensando. Eu não parava de imaginar o que seria este trabalho que o incentivo à leitura era através de uma narração.  Tinha medo do novo público, que eu também não tinha experiência: a turma do ensino fundamental I (3º ao 5º ano), alunos de 8 a 10 anos. Nossa, que desafio eu teria pela frente! Percebi que não seria a mesma contação da minha experiência anterior com as crianças menores, que tem puramente a fantasia. O tom do contar história não poderia ser a mesma coisa de antes. Pelo que tinha percebido, eles não gostavam muito de vozes muito infantilizadas, era um pouco mais sério. Brincadeiras nem pensar, não daria tempo, pois em 50 minutos de aula eu teria que emprestar os livros e contar uma história. Como fazer, o que, por quê? Por onde começar?  Comecei a ler os livros, conhecer as histórias e aquele despertar para a contação de histórias começou a aparecer. Pensei em desistir, mas só ficou no pensamento. As histórias teriam que ser diferentes também: não dava para contar Branca de neve, algum outro conto de fadas, pois para esta idade com certeza eles já conheciam a história e não teria graça nenhuma escutar uma história repetida. Foi então que pensei: uma história bacana com um tema interessante, qual seria? Busquei mais livros e eis que brilhou o título “O segredo da amizade”. Isso mesmo, começar com um tema que seria o início de tudo: amizade. Ótimo tema para início de ano, professora nova, amigos novos. E o mais importante: como selar uma confiança dos alunos comigo, para que eles me dêem uma chance de me conhecer, de me respeitar, de saber como sou, o que sou, do meu trabalho, da minha paixão em dar aulas, das minhas intenções enquanto professora de biblioteca naquela instituição. Era assim que eles iriam me chamar: professora de biblioteca.
O marco da contação de histórias na minha vida estava se iniciando de uma forma tão bela, única, misteriosa, verdadeira. Fui estudar aquela história sobre a amizade, e que bela mensagem. Quando terminei de ler, fiquei tão emocionada e ao mesmo tempo mil ideias brotaram nos meus pensamentos: o que usar para contar esta história? Que tipo de objeto envolveria ainda mais os alunos? Que magia eu levaria para eles? Como tiraria eles daquela rotina escolar, levando-os a um lugar desconhecido de cada ser? Colocaria alguma música, poesia, vídeo? Poderia me vestir com alguma fantasia? Faria cartazes, faixas para destacar algo importante da história? Os alunos participariam em algum momento?
Estudar a história, mais uma etapa. Se eu chegasse à sala e fosse ler o livro, seria a mesma coisa que a professora da sala de aula faz, e aí qual a diferença desta tal professora de biblioteca? Certamente nenhuma. Só mudaria o espaço e a professora, mas a história contada seria a mesma. Pensava: “se eu soubesse da história e usasse alguns apetrechos, o encantamento seria outro e os alunos se surpreenderiam falando: ‘nossa ela sabe desta história, a mesma do livro’.” Outra pergunta surgiu: usar ou não o livro para mostrar as imagens? Decidi que nesta história não porque era o meu primeiro contato com os alunos. Preparei uns fantoches de palito com os personagens, um esborrifador para jogar água como se fosse uma garoa (faz parte da história), preparei as cadeiras em círculos para que todos pudessem me ver, fiz uns cartazes falando sobre a importância da amizade.
Cada vez que se aproximava o dia da contação mais perguntas vinham à tona, deixando meus pensamentos borbulharem com várias ideias. Será preciso falar alguma coisa depois da contação? Deixo um tempo para que os alunos comentem, deem sua opinião se gostaram ou não, ou será melhor não deixar porque senão podem querer escolher somente o que eles gostam e querem, fugindo dos objetivos da aula.
Pronto, agora era só levar para a prática e ver se daria certo ou não. No dia mais esperado, um turbilhão de sentimentos foi explodindo a cada momento, mas tudo deu certo. Tive confiança em tudo o que havia preparado antes, estava segura o suficiente para não demonstrar nenhum medo e apresentar o meu trabalho com qualidade. Claro que alguns detalhes foram esquecidos, mas nada que atrapalhasse a contação a ponto de eu ter que parar. E assim acontece com todas as histórias novas, até hoje. As perguntas são as mesmas, porém um pouco mais. E acho que isso acontece como se fosse um teste, uma preparação, para fazer cada vez melhor.
Neste universo de contação de histórias acredito que há uma mudança constante, principalmente devido as novas tecnologias e outra por essa nova geração que não sai tanto de casa, não brinca na rua, devido em grande parte da violência.
A meu ver, um grande boom dos contadores de histórias está acontecendo nesta década devido à importância da leitura. Hoje a variedade e a facilidade de aquisição de livros são imensas, só não busca quem não quer. Alguns lugares nem tanto, como o caso do Nordeste do Brasil, mas em sua maioria são projetos e mais projetos de incentivo à leitura. Percebo no meu trabalho o quanto os alunos pedem contação de histórias, mais que uma cantiga, e algumas vezes mais que brincadeiras.
Hoje me orgulho de participar do curso de pós-graduação em contação de histórias. Estou me aperfeiçoando mais e mais, e descobrindo coisas que nunca percebi, aquele olhar diferente. É maravilhoso e encantador. Conheci profissionais incríveis nesta área que me deram ainda mais motivação de continuar.